Você estuda, estuda e nada. Faz sua parte, mas a aprovação nunca chega. Sem saber, você pode ser vítima de um problema invisível: a ilusão de competência.
Ela se manifesta quando você acredita que estuda corretamente, mas, na verdade, está se enganando. Como quem marca todo o texto antes de entender os pontos principais. Lê a resposta de uma questão e acha que já entendeu toda a matéria. Ou acredita que assistir aula e estudar são a mesma coisa.
É como se você estivesse com o freio de mão puxado. E o pior, a culpa não é sua, você faz o que acredita que funciona. Afinal, você faz o que deu certo na escola. Por que, agora, daria errado?
É aí que mora o perigo, concurso é diferente de tudo que você viveu. E quando o aluno da escola começa a estudar para concursos, as dificuldades começam a aparecer. A realidade mudou: não basta ficar na média, fora da recuperação e passar de ano.
Então você terá que rever, aprender ou abandonar algumas estratégias. Tudo isso é difícil, às vezes, você tem que mudar comportamentos que já carrega por muito tempo. E quando o receio é maior que a vontade de mudar: você fica inseguro, ansioso e parado.
Por isso, vou te apresentar 6 erros que todo concurseiro pode cometer na hora de estudar. E o melhor, você vai receber dicas para evitar cada um deles. Assim, você terá mais segurança para vencer o receio e avançar com a mudança.
Depois de ler o texto, você vai entender:
- a distinção entre a aluno e estudante;
- porque ler não é estudar;
- quando a repetição pode ser prejudicial;
- o uso adequado da caneta marca texto;
- a importância de revisão, com sugestão de duas estratégias;
- o perigo de estudar só pelos resumos de outras pessoas
Vamos lá.
Acreditar que aluno e estudante são a mesma coisa
Todo mundo deveria ser capaz de estudar corretamente. Afinal, todo cidadão, que tem acesso ao ensino fundamental e médio, fica mais de 10 anos na sala de aula.
Mas essa não é a realidade, muitos alunos saem da escola sem saber ler, escrever ou somar. E o pior, sem o hábito de estudar.
Há alguns anos, uma frase do professor Pier chamou atenção: “Brasil tem milhões de alunos e pouquíssimos estudantes”.
Segundo o Professor: aluno é quem assiste aula, coletivamente, e de forma passiva. Já o estudante estuda a matéria, de forma ativa e solitária.
Quando você assiste as aulas consegue a compreensão e o entendimento da matéria. A aprendizagem, porém, é obtida por meio do estudo.
Nessa linha de raciocínio, ao estudar para concursos, você deve ter uma postura de estudante. Na prática, toda aula teórica, seja presencial ou virtual, deve ser acompanhada do estudo. Não adianta fazer cursinho o tempo todo e ficar sem tempo para estudar.
Se tiver que escolher entre um ou outro, prefira estudar sozinho.
Na hora de estudar: escreva à mão. Essa abordagem auxilia no aprendizado da matéria, pois demanda maior concentração e esforço do cérebro. Além disso, ela faz com que você foque no essencial já que não é possível, fisicamente, reescrever todo o conteúdo.
Enfim, o estudo deve ser solitário, ativo e escrito à mão.
Você pode ter ficado com dúvida em relação à postura ativa. Será que eu tenho que pular enquanto estudo? Ou dar umas voltas pela sala? Não, não é nada disso.
E, para ficar mais claro, vou dar exemplos práticos no decorrer do texto.
Acreditar que só a leitura basta para o estudo
Há vários tipos de leitura. Você pode ler para se divertir, informar e aprender.
Cada um tem sua cadência e objetivo. Você não lê o livro do Harry Porter da mesma forma que a apostila de direito administrativo. Nem um jornal da mesma forma que um manual de instruções.
Quando se lê uma apostila, o famoso “PDF”, com o objetivo de aprender a matéria, não basta só a leitura, você precisa de uma postura mais ativa.
É preciso avançar no ritmo do seu entendimento e, ao longo do caminho, colher os pontos principais da matéria, como se você estivesse fazendo uma cola para prova, que nunca será usada, obviamente.
É um esforço contínuo para entender a explicação do autor e conectar com outros conhecimentos já adquiridos.
É relacionar as garantias e direitos fundamentais, do direito constitucional, com o seu cotidiano; o uso dos “porquês” na hora de escrever e até relações improváveis, como a de princípios constitucionais com o presente do subjuntivo do verbo limpar, formando o famoso: LIMPE.
É claro que essa última relação foi só uma brincadeira. A origem da sigla LIMPE é mais simples e óbvia. Ela é simplesmente a junção da primeira letra de cada princípio (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência).
Eu fiz essa brincadeira para exemplificar como você pode explorar todas as relações possíveis. O importante é que ela seja memorável e faça sentido para você.
Na verdade, a leitura é parte do ato de estudar e deve ser sempre praticada, tanto que aconselho a adoção desse hábito para seu entretenimento. Ela aumenta suas conexões neurais, por isso expande sua inteligência e melhora sua aptidão para os estudos em vários aspectos.
Só não pode confundir o ato de estudar, com o de ler.
Concurseiro iniciante ou que já está na estrada. Cuidado com a repetição mecânica e desinteressada
Você fica por horas resolvendo questões que já domina? Ou martelando um conceito que já aprendeu?
Mesmo sem saber, você praticou o overlearning que nada mais é do que a repetição mecânica de uma mesma atividade, como o Charlie Chaplin em Tempos Modernos.
Isso é muito comum para exercícios físicos, todo atleta profissional tem uma rotina de treinos: o Oscar treinava 300 lances livres por dia, o Rogério Ceni batia 100 faltas no final de cada treino e Marta, na infância, madrugava todos os dias para treinar sua arte que fez dela 7 vezes a melhor do mundo.
Enfim, para atividades físicas a repetição mecânica é essencial. Já para uma atividade cognitiva, como estudar para concursos, nem tanto, principalmente no médio e longo prazo, aponta um estudo.
O estudo exige uma atitude ativa. Desse modo a repetição passiva e mecânica não faz sentido. Ela tem que ser desafiadora e envolvente.
Por isso o método de estudar a matéria no dia anterior à prova não funciona. Quem nunca fez uma prova e se esqueceu de tudo, depois de sair da sala?
Outro aspecto que deve ser levado em conta é o cansaço. Por isso, quando você relê o texto inúmeras vezes e não está guardando mais informações na sua memória, é sinal de que você precisa de uma pausa.
Mas como evitar o overlearning na minha preparação?
Você pode intercalar matérias de cunho mais teórico e prático, como português e matemática, ou direito e raciocínio lógico.
Além disso, faça pausas entre as sessões de estudo. Não há uma relação ideal, alguns gostam de 50 minutos focados para cada 10 de descanso, já outros preferem 1:30h para cada 30 de descanso. Veja o que funciona para você.
Tudo isso para você ser mais produtivo na maior parte do tempo.
Usar o marca texto de forma descontrolada
É tão fácil marcar um trecho do texto, a caneta desliza pela página e bate até uma satisfação momentânea.
O problema é quando a marcação precede o entendimento. De modo que se torna apenas um gesto mecânico, sem significado para o aprendizado.
Não podemos confundir o ato de marcar, com o ato de entender a matéria.
Já vi páginas de livros que ficaram amareladas, por conta de tantas marcações. Caso seu objetivo seja mudar a cor do livro, tá certo. Mas acredito que essa não seja sua intenção.
Quando você lê, entende o contexto geral e consegue identificar os pontos principais, marcar um trecho é produtivo. Mas quando você lê, não entende a matéria e já marca alguns termos, certamente você está se iludindo.
Para não cometer esse erro: antes de marcar um termo, repita ele mentalmente 3 vezes e tente relacioná-lo com outros conceitos já vistos. Só depois marque o texto.
Com isso, você garante uma maior eficácia no uso do marca texto.
A revisão que nunca chega
Essa foi minha fraqueza por muito tempo. Eu sempre fiz resumos de cada matéria. Só tinha um problema: eu nunca revisava.
Dessa forma muito do meu aprendizado era simplesmente esquecido, e para cada novo concurso tinha que “reaprender” a matéria. Fiz tantos cursos de direito administrativo e português que até perdi a conta.
Nossa memória de longo prazo é infinita, mas joga fora o que não é muito usado. Por isso, você se esquece do nome de um colega distante, e se lembra do nome de um amigo próximo.
Com os estudos não é diferente, quanto mais contato você tem com a matéria, mais você fixa o conhecimento.
O problema é que para concursos são muitas matérias, em diferentes estágios de aprendizado. Para algumas você já viu quase toda teoria, já outras são inteiramente novas.
Enfim é preciso organização para saber o que deve ser revisado e quando, para que o conhecimento esteja acessível quando for necessário. De nada adianta lembrar de algo, depois que já saiu da prova. Já passei por isso várias vezes e a sensação é terrível.
Por isso a revisão é importante para fixar o conhecimento e torná-lo acessível mais rapidamente.
Acredito que todo concurseiro iniciante ou que já está na estrada tem essa dificuldade. Então vamos para algumas dicas.
Duas estratégias para revisar o conteúdo
Você pode usar fichas de estudos e agendar a revisão de cada uma. Isso pode ser feito, manualmente, com o uso de uma agenda, ou com uso de ferramentas como o AnkiWeb ou Quizlet.
Outra estratégia é revisar por questões. Na hora de resolvê-las você pode rever alguns aspectos relacionados com o tema da pergunta.
Mas como eu faço isso?
Após resolver a questão, você busca mentalmente ou no seu resumo, pontos de relação com conteúdo. Supondo que você tenha resolvido uma questão sobre legalidade, você pode revisar outros aspectos desse princípio que não foram cobrados, ou dificultar um pouco mais a questão, incluindo novos elementos. Enfim, explore a questão para maximizar seu aprendizado.
Não há uma bala de prata, para cada situação uma ou outra estratégia pode ser mais indicada. Além disso, elas podem ser usadas em conjunto, inclusive com outras. Só tenha cuidado para não ficar perdido.
Enfim, veja a forma que dá mais resultado e se encaixa melhor na sua rotina.
Só não vale ficar sem uma estratégia de revisão.
Trocar a parte pelo todo
Um resumo, não substitui um livro. Uma frase, não substitui um texto. Um citação, não substitui um artigo.
Eu sei, você tem pressa para aprender todo o conteúdo e quer todos os atalhos. Mas nem sempre isso é possível.
Um resumo, uma frase ou uma citação podem ser o primeiro contato, mas não o único. É como uma porta que se abre, mas não vale só espiar tudo de fora, você tem que entrar e explorar toda a casa.
Quando você estuda um conteúdo, você cria uma série de associações, usa palavras mais memoráveis para você e cria siglas que fazem sentido no seu contexto. Enfim, deixa tudo mais familiar.
De modo que na próxima consulta ao resumo, você já tem vários ganchos para lembrar do conteúdo.
Por outro lado, quando você estuda só pelo resumo de outra pessoa, seja esquema, mapa mental ou ficha. Tudo isso se perde.
Desse modo, acredito que não se deve estudar, unicamente, pelo resumo construído por outra pessoa.
Por outro lado, ele pode ser útil na hora da revisão, pois pode evidenciar algum ponto que você não notou; servir como modelo para você aprender a criar os seus resumos; ou quando você não tem tempo para explorar todo o conteúdo. Afinal, ter uma noção da matéria é melhor que nada.
Conclusão
Nossa mente é feita para poupar energia. E aprender exige muita energia.
Então já viu né?
Sem perceber, vamos na direção da zona de conforto, com o uso indevido do marca texto, uma leitura sem propósito ou a repetição desinteressada.
Sem perceber, o estudo torna-se mecânico e cada vez mais chato e entediante.
Resultado: você fica feito robô, só repetindo o que já aprendeu e dentro na zona de conforto.
Por isso, é preciso ficar atento. O seu objetivo diário é aumentar a bagagem de conhecimento. Se isso não estiver acontecendo é melhor rever suas estratégias.
Por outro lado, somos feitos para evoluir. Cada ser humano é o resultado de um processo evolutivo de milhares de anos. Cada dia uma infinidade de células se transforma para continuar esse processo.
Então, adote uma postura ativa e interessada para que seu conhecimento siga o fluxo natural de evolução.
Afinal todo dia é dia de ficar um pouco mais perto do seu sonho.
Excelente!! Obrigada.
Muito obrigado pelo elogio.